Rodrigo Nunes - 28 anos, já cruzou as Américas 2 vezes
Entrevista por Policarpo Jr
Aonde um ser humano determinado com atitude e garra em querer conhecer o mundo de uma maneira nada convencional, porém intensa, não pode chegar de moto? (não vale citar oceanos, claro!)
Nesses primeiros oito meses (completados em 15/07/2008) de atividades da revista eletrônica de moto turismo Rock Riders e vigésima sexta entrevista realizada, venho conhecendo motociclistas incríveis. Seres humanos especiais. Me orgulho por esse trabalho e a cada dia mais o faço com prazer e emoção. Fazer essas "Entrevistas" para o Rock Riders faz com que viaje virtualmente junto com os personagens entrevistados, rememorando suas vivências e aventuras.
Sem delongas, as realizações do entrevistado homenageado falam por si só. Basta dizer: Rodrigo Nunes, um rapaz com humildade e simplicidade bonita de se ver e conhecer, de apenas 28 anos, que já rodou 2 vezes cruzando os continentes americanos, ou se preferirem; conheça o motociclista que já rodou 2 vezes por 1/3 do planeta!
Pronto está feita a apresentação do entrevistado. Agora vamos a matéria...
Primeiro segue parte do mapa mundi com os países e continentes que o Rodrigo Nunes já cruzou em suas viagens - traçado em vermelho (eitá!)
(infelizmente devido ao clima (nevascas) Rodrigo não chegou a ir
para o Alasca, mas foi até o meio do Canadá pela costa oeste/Pacífico)
" Todo ser humano nasce e morre.
Porém nem todos vivem."
Rodrigo Nunes
Rodrigo, o que o motivou a realizar essa mega viagem pilotando uma moto?
Um conjunto de fatores: o prazer e a satisfação de conhecer novos países, povos e culturas. Surgiu em mim uma motivação e vício em querer rodar muito de moto. As lições e desafios que vivenciamos numa viagem como essa são indescritíveis. Os aprendizados são infinitos. Vivemos os melhores e os piores dias de nossas vidas.
E como é o planejamento para a realização de uma viagem desse porte?
A principal preparação, sem dúvidas, é a psicológica. Primeiro você tem que acreditar que vai dar tudo certo. Depois tem que lidar com a pressão das pessoas que o consideram maluco. Raras são as pessoas que irão lhe dar apoio para uma realização como essa. Depois tem que correr atrás de todos os trâmites e requisitos que uma viagem assim precisa: tempo, dinheiro, patrocinadores, moto, estudo de mapas, etc.
Antes de realizar essa viagem de São Paulo - Ushuaia - Canadá - São Paulo, qual era sua experiência em viagens de moto?
Minha primeira viagem de moto foi quando eu tinha 22 anos. Conheci todo o sul do Brasil e pela primeira vez "pisei" fora do país, cruzando a tríplice fronteira em Foz do Iguaçú no Paraná, onde sozinho rodei uns 5000km. Em 2005 já com 25 anos, percorri toda América Latina, da minha cidade natal, São Roque (interior de SP), fui até o Ushuaia, depois subi toda América do Sul até Cancun no México e dei um pulinho na ilha de Cuba, nessa viagem rodei 35.000km.
Ah, fiz uma viagem também rodando por Goiás, Tocantins e Minas Gerais, uns 5000km, pilotando uma Srad 1000, mas rodei tão rápido que não teve muita graça (risos). Prefiro rodar devagar para apreciar mais as paisagens.
Ai, em 22 outubro de 2007 sai para essa viagem até o Canadá, onde na verdade queria ter chegado até o Alasca, mas devido ao frio intenso e nevascas, meu limite físico foi estrapolado e não deu.
Rodrigo você não é fraco não (risos)... há quanto tempo roda de moto?
Desde os 14 anos ando de moto e desde os 6 anos de bicicleta.
E qual a moto que você utilizou nessa viagem, quanto gastou, como foi seu dia a dia durante o percurso?
Fiz a viagem numa Honda Tornado 250cc. Ótima moto, não me deu nenhum problema. A escolhi por ser trail, uma moto comum e econômica.
Para o porte da viagem eu gastei muito pouco, uns R$ 18 mil, isso porque usei a estratégia de dormir em "Corpos de Bombeiros" em todas as cidades dos países que cruzei. Aprendi isso com um Argentino que conheci numa viagem anterior que fiz de moto. É uma excelente forma de economizar e ainda conhecer gente muito legal, nos tratam muito bem. Raras foram as vezes que um "Corpo de Bombeiro" recusou minha estadia. O melhor nem foi a economia que eu fiz, e sim as amizades, eles cuidam da gente. Hoje digo que tenho amigos por toda as Américas!
Quais os países que cruzou que te chamou mais atenção?
Nossa, difícil responder com poucas palavras, farei isso num livro (risos).
Mas, por exemplo, o Chile é um lindo país, extremamente organizado e seguro, um dos melhores países da América Latina. O Uruguai, um país tão pequeno e super acolhedor e trânquilo. Na Bolívia e Peru o choque cultural é enorme, a maioria de seus habitantes são descendentes de índios, cheio de lendas e enigmas... A Colômbia é um país lindo, com suas altas cordilheiras e paisagens deslumbrantes e um povo com uma simpatia invejável. Panamá é um rascunho dos EUA. América Central tão pobre economicamente e tão rica culturalmente e geograficamente... lindas praias na Costa Rica... o México sufocado pelo imperialismo americano, porém com gente simpática e uma culinária da melhor que já vi, sem contar com suas pirâmides magníficas.... Já os EUA... esse não gostei não, eitá povo capitalista, mas tem o Grand Canyon...!
É engraçado porque depois de cruzar todas as Américas, vejo que o Brasil é um país lindo, com gente feliz por nascença, sempre levando tudo na brincadeira... paisagens sem igual... nosso país é maravilhoso.
Como você fez a travessia para a América Central?
Fui e voltei de avião entre Bogotá (Colômbia) para o Panamá. Na minha primeira viagem fui de barco de madeira, mas não foi uma experiência agradável. Aconselho a todos que vá de avião, eles saem 2 vezes por semana, são mais seguros e confortáveis.
Seu destino era chegar até o Alasca, o que ocorreu que foi obrigado a desistir?
A maior dificuldade de toda minha vida foi cruzar os EUA em direção ao Canadá, o frio e nevascas estavam de lascar, parecia que eu estava rodando dentro de um frezzer! Dava um trabalho enorme todos os dias colocar as roupas e acessórios para rodar... usava 3 luvas, 3 meias e qualquer "arzinho" que entrava pelos "buracos" das roupas, parecia uma "faca"... de tanto frio. Passei vários dias assim, até que minha cabeça ficou meio perturbada, não entendia mais o que estava acontecendo, foi ai que me dei conta que eu tinha que voltar, pois estava colocando minha vida em risco, pois, facilmente poderia provocar um acidente.
Acredito que todos temos nossos limites e eu já tinha passado do meu. Ai abortei um pedaço da viagem e iniciei meu retorno (cheguei a metade do Canadá pela costa oeste/pacífico).
Não importa para onde vá e sim o caminho que irá fazer, essa foi a minha lição.
A esposa do Rodrigo, Andrea (31), num determinado momento da viagem, devido às saudades do marido, pediu demissão do seu emprego, pegou um avião e foi até a cidade de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), e o acompanhou na garupa o trecho da viagem até a cidade da Guatemala na América Central (cruzaram juntos 10 países).
O que diria para aqueles que um dia pretendem realizar uma mega viagem como essa?
Temos que correr atrás dos nossos sonhos. Não se preocupar com questões materiais, motos, se vai acompanhado ou não e principalmente não dar "ouvidos" aqueles que falam que você é louco e que isso é muito perigoso.
O mundo está dentro da nossa cabeça e o que acreditamos acontece. Assim, de repente, podemos estar "dentro da nossa roupinha de madeira" e ai, vivemos nossos dias intensamente? Valeu a pena ter passado por essa vida? Ou deixamos tudo para o amanhã? A gente só se arrepende das coisas que não faz.
Uma frase que vi numa Scooter de um senhor que viajava pelo Brasil: " Vou com Deus e se não voltar estarei com Ele."
Conheça o site do Rodrigo Nunes - www.rodrigonunes.com.br
Envie um e-mail ao Rodrigo - rodrigo@rodrigonunes.com.br