Entrevistado por Policarpo Jr
José Carlos, 45 anos, Empresário e Publicitário. Motociclista há mais de 25 anos e Débora Oliveira, sua namorada e garupa (foto ao lado).
Há umas semanas atrás recebi um e-mail desse motociclista dizendo: " Parabéns pelo site Rock Riders, acabei de chegar de uma viagem ao Chile com a minha namorada, foi muito legal. Em breve irei com uns amigos fazer um desafio de Iron Butt, onde rodaremos 1600km em menos de 24 horas de Burgman 125cc."
Alguns dias antes de receber esse e-mail, o Rock Riders em parceria com a Moto Store, loja de produtos e acessórios para motociclistas, realizou uma homenagem a pilotos de Iron Butt. Essa prática motociclistica requer alto grau de pilotagem, se consiste em rodar muito em curto espaço de tempo. Até então, só tinha ouvido falar de motociclistas com motos de alta cilindrada que realizam esse tipo de desafio. Ai me aparece o José Carlos dizendo que iria rodar 1600km na estrada de Burgman 125cc em menos de 24 horas !? Fiquei surpreso e com a dúvida: esse motociclista deve estar brincando.
Não estava. Dia 19/04/08, ele e 3 amigos partiram para o desafio e o cumpriram, todos, pilotando uma Scooter Burgman 125cc.
José Carlos em dezembro/07 foi com sua namorada Débora Oliveira, pilotando uma V-Strom 1000 para o Chile, Uruguai e Argentina, passando por diversos pontos turísticos naturais, como o Deserto do Atacama, Pampas Argentinos, Bariloche e muito mais.
Pronto, fechou a pauta dessa entrevista/matéria! O mesmo piloto, vai para países da América do Sul, em viagem solo com sua namorada na garupa e de quebra, faz um Iron Butt com moto de 125cc.
Conheça essas aventuras realizadas pelo José Carlos...
José Carlos, dê-nos um resumo da sua história no motociclismo estradeiro.
Piloto motos desde os 20 anos de idade, hoje estou com 45, mas nos últimos quatro o enfoque é mais voltado a viagens. Uso a Burgman na cidade para trabalhar e a V-Strom para os finais de semana. Como costumo viajar com minha namorada, que também adora motos, resolvemos montar um site o www.motoa2.com.br com a intenção de ser uma fonte de consultas de moto turismo, para outros casais apaixonados por estradas e motos, com o diferencial de ter sempre o testemunhal do piloto e da garupa, que na maioria das vezes não é lembrada, e claro, muitas fotos.
Nossa viagem dos sonhos, foi em Dezembro passado (2007), durante 24 dias percorremos parte do Sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile.
Minha última aventura foi encarar o Desafio Iron Butt de Scooter 125cc. Foram 1.624 km em 22h33.
Bom, vamos por partes, nos conte primeiro como foi o planejamento para a realização do Iron Butt de 1600km em menos de 24 horas, pilotando uma Scooter Burgman 125cc.
Pintou a idéia de encarar esse desafio, pilotar por 1.000 milhas em até 24h, resolvi então convidar uns amigos, e para ficar mais emocionante um deles sugeriu: - Por que não de Scooter? Desafio aceito, eu e meus amigos Edrey Momo e Paulo Bertozzi marcamos a data da partida, 19/04/08.
Começa então a fase mais importante da viagem: O Planejamento – reuniões para definir o roteiro, horário de partida, estudar condições das estradas, calcular distâncias, média horária, autonomia, antecipação de problemas, documentação, revisão, test drive, check list, ufa.
A primeira impressão que as pessoas têm é de que trata-se de uma loucura, mas como pode se ver, não é bem assim, dá bastante trabalho para preparar tudo minimizando os riscos.
Para completar nossa equipe mais três amigos de fundamental importância nesse desafio se juntaram a nós. Em nossa imponente Picape Mitsubishi Triton de apoio seguirão os tripulantes Fernando Moreira, João Maciel e Dinarte M. Leão, com as funções de: navegar, fotografar, filmar, reabastecer as Scooters e cuidar das planilhas e comprovantes dos postos de abastecimento, além de pilotar o carro de apoio, é claro. Dias antes da partida, mais um piloto se juntou a nossa equipe, Ricardo Chaibub. Agora somos 4 pilotos em 4 burgmans 125cc.
E ai, dia 19/04/2008 vocês partiram para o desafio do Iron Butt. E como foi?
O Roteiro – decidimos fazer todo o percurso dentro do estado de São Paulo, pelas condições das estradas serem favoráveis. Partiremos às 20h do primeiro posto da Rod. Dos Bandeirantes com destino as cidades de: Rio Claro / Catanduva / Pereira Barreto / Presidente Venceslau / Presidente Prudente / Lins / Lençóis Paulistas / Tatuí / S.Paulo. Optamos por largar a noite para rodar pelas melhores rodovias nesse período.
Os motociclistas de Iron Butt: da esquerda para a direita -
Paulo, Edrey, José Carlos e Ricardo.
Com as Scooters e a Picape devidamente personalizadas, chegou o dia. Largamos do local e no horário previstos, somente quem não estava convidada era a chuva, que iria nos acompanhar por toda a noite. Seguimos o roteiro previsto, parando a cada 150 km e seguindo sempre o mesmo ritual, enquanto o apoio cuidava do reabastecimento e dos demais trâmites, nós, pilotos engolíamos um lanche e um energético e voltávamos para a estrada, sem descanso, tínhamos que cumprir uma média de 87km/h para não ultrapassar às 24h. Tarefa difícil para as quatro motinhos. Nossos primeiros 150 km foram tranqüilos, o primeiro “pit stop” também, seguimos então para Catanduva, nosso 4º piloto Ricardo, começa a enfrentar problemas de cansaço e o pior, sono. Em Catanduva uma bronca da equipe de apoio no Ricardo: Acorda cacete!
A 614 km de S.Paulo, no trevo de Pereira Barreto, às 5 da manhã, eu o Edrey e o Paulo paramos para esperar o Ricardo e a Picape, da pra imaginar a escuridão que estava no lugar? Vinte minutos depois começamos a ficar preocupados, será que aconteceu alguma coisa?
Ligamos para o Maciel - caixa postal, Fernando - caixa postal, Dinarte - caixa postal, só nos resta tentar o Ricardo, está chamando:
- Alô Ricardo, Ricardo está ouvindo, alô?
Ouvimos uma voz tremula atender, parece o Dinarte:
- Meu Deus, estou ouvindo vozes, estou ouvindo vozes.
Logo em seguida chegam a Picape e a Scooter, pilotada agora pelo valente Dinarte. O Ricardo e seu capacete com Bluetooth tinham desistido. Enquanto isso nosso piloto reserva que clamava proteção para São Benedito ouvia vozes dentro do capacete. Éramos nós: São Paulo, São José e São Edrey. Esse Dinarte é uma figura!
Agora o Ricardo faz parte da tripulação da Picape e sua Scooter pega uma carona na caçamba. A essa altura a minha Scooter já começa a ter uma queda de rendimento, tenho que acompanhar o Paulo de perto a cada subida para não perder contato. Em Andradina nosso amigo Edrey resolveu adquirir um terreninho, ao passar do acostamento para a estrada o degrau foi mais ligeiro que ele, graças a São Benedito, nada grave. Começa a clarear o dia e a chuva, enfim, fica para trás, estamos indo bem, melhor do que esperávamos em termos de horário, isto é, até chegarmos perto de Rancharia, e o começo de uma subida, o que para mim era um sacrifício, porque a Scooter perdia muita velocidade. Bem na minha frente tinha um caminhão, a minha esquerda a faixa dupla e a minha direita um posto da Policia Rodoviária, numa fração de segundo tinha que decidir por onde ir, frear jamais, e foi com a agilidade de um piloto de caça que decidi, pela direita.
Cinco quilômetros mais tarde fomos alcançados pelo veloz Corsa 1.0 da Policia que nos fez voltar até o posto policial. Depois de muitas desculpas, 40 minutos perdidos e uma multa para cada um, seguimos para Lins. No caminho perto de Assis foi a vez do Paulo se encantar por um terreno, mais uma vez São Benedito estava de plantão. E a minha Scooter continuava me preocupando, agora além de perder rendimento, a embreagem começava a fazer um barulho estranho, seguimos, Lençóis Paulistas, Tatuí, falta pouco agora. Para nos acordar a nossa amiga da noite anterior resolveu voltar, chove forte agora, chegamos ao posto da Marginal do Pinheiros, perto do Jockey, depois de 22h33 e de conhecer boa parte das estradas paulistas. Missão cumprida, agora só mais uma esticadinha até a Vila Mariana, onde nossos amigos e familiares nos aguardam na 1900 Pizzeria, nossa querida e gostosa patrocinadora.
E como disse meu amigo Edrey, agora somos uma família. A família Butt.
Veja aqui release publicado no Rock Riders logo depois da realização desse desafio relatado pelo José Carlos.
E a viagem ao Chile, Uruguai e Argentina, destinos tão falados por todos nós motociclistas estradeiros. Fale-nos sobre a fase pré-viagem.
Essa era uma viagem que nós tínhamos vontade de fazer faz tempo, sempre conversávamos sobre isso, e surgiam muitas dúvidas: será que conseguiríamos agüentar tantos quilômetros sobre a moto? será que não vamos passar muito frio? será que não é perigoso demais?
Até o dia em que decidimos, vai ser esse ano (2007) e em Dezembro, ai parece que o universo começa a conspirar a favor, tínhamos uma V-Strom 2004 e acabamos trocando por uma zero, por insistência de um amigo que queria comprar uma, e ainda acabou sendo um ótimo negócio.
O planejamento da viagem durou sete meses, e é fundamental, principalmente numa viagem longa onde você vai passar por outros paises. A internet foi uma das principais fontes de consulta que utilizamos, para conversar com outras pessoas que fizeram essa viagem, para escolher o roteiro, definir alguns lugares que queríamos visitar, conhecer a legislação de transito dos outros paises, enfim, a internet facilitou muito. Também consultamos alguns mapas e guias impressos.
Uma parte chatinha, mas muito importante é a documentação. Não é exigido, mas por garantia tirei uma carteira de habilitação internacional (no Detran), além de uma 2ª via da nacional. Seguro carta verde, (obrigatório). Comuniquei o seguro da moto, pedi uma autorização da financeira (obrigatório), e fiz cópia de toda a documentação, nos paises do Mercosul não é exigido passaporte.
Roteiro da viagem pela América do Sul.
José Carlos, já que em seu site tem o relato completo da viagem realizada - vide - www.motoa2.com.br, vamos abordar um resumo descrevendo as experiências com as Aduanas, Polícia e os principais locais que vocês passaram...
MOTO:
Suzuki DL 1000 V-STROM 2007
Total rodado nessa viagem foi de 9.960 km
Total de despesas de manutenção: 2 trocas de óleo
A V-Strom foi perfeita, não apresentou nenhum problema durante todo o percurso, e é bastante confortável para viagens longas, tanto para o piloto quanto para a garupa.
ADUANAS
Todas as passagem pelas aduanas foram tranqüilas, fomos bem recebidos e não perdemos muito tempo, até na do Chile que é a mais demorada, porque eles revistam todas as bagagens, fomos muito bem tratados, inclusive um dos policiais até saiu do posto para tirar uma foto ao lado da moto. Na volta para entrar na Argentina, foi o único lugar em que nos pediram o seguro carta verde. Mas se estivéssemos sem ele teríamos tido problemas.
POLICIA
Ao contrario do que a maioria das pessoas falam, não tivemos nenhum problema com a policia. Na Argentina até parávamos para pedir informações. Na volta, por engano passamos direto por um pedágio, e logo a frente fomos parados por um policial, que nos informou que havíamos furado o pedágio e que além do pedágio teríamos que pagar uma multa.
Pedi desculpas, expliquei que me confundi, porque na Argentina alguns pedágios moto paga e outros não.
No final o policial nos liberou da multa e ainda disse que tinha vergonha de vestir aquela farda, pela ma fama que ela tinha.
No Chile moto paga pedágio, sem exceção. Fui parado uma vez em Chilóe, estava um pouco acima da velocidade permitida, mais um pedido de desculpas e tudo bem.
PAMPAS ARGENTINOS
A Travessia dos pampas não é nada fácil, mesmo estando com uma moto grande, com garupa e três bagageiros lotados, tive que rodar 180 km de lado, o vento lateral é impressionante, só para ter uma idéia durante todo esse trajeto estávamos em 4ª marcha a 5.000 rpm a 80km/h, se fosse em condições normais, em 6ª marcha a 5.000 estaria a 150km/h. Quando cruzávamos com um caminhão baú então...
PANE SECA
Entre Mendoza e San Francisco aconteceu o que eu temia, acabou a gasolina, o pior é que essa estrada é meio deserta, e não é incomum você passar por um posto e ele não ter gasolina. Resumindo, como ninguém parava para dar carona, andei 10km até achar um posto e depois mais 10 para voltar, e num calor de 40º.
ATÉ NO FIM DO MUNDO
No dia seguinte, entre S.Francisco e San Tomé Corrientes, paramos para abastecer e almoçar num posto que parecia mais aqueles de filme de velho oeste. E, para nossa surpresa enquanto almoçávamos, entra um casal de amigos de São Paulo. E enquanto conversávamos eles nos disseram: - Ah! nós vimos ontem uma moto igual a sua parada na estrada e uma menina deitada debaixo de uma árvore. E pensar que eu andei 20km...
BARILOCHE
Uma das maiores emoções da viagem, foi a aproximação de Bariloche. Depois de atravessar grandes retas, brigar contra o forte vento, começar a avistar o azul maravilhoso do lago Nahuel Huapi, é como se fosse um presente por você ser perseverante, e ainda mais se você estiver ouvindo “Per Amore” com Andrea Bocelli. A emoção venceu, tivemos que parar a moto para dar uma choradinha.
OSORNO – CH
Outro lugar inesquecível, que só de falar eu sinto saudades é Osorno, foi a primeira vez que eu vi um vulcão coberto de neve. Já era tarde, umas 21h quando avistamos o Vulcão de Osorno, mas não deu para esperar o dia seguinte, parece que o vulcão te atrai, chegamos nele às 22h ainda estava claro, e deu pra brincar um pouco na neve, simplesmente maravilhoso.
VILLARICA – CH
Villarica, fica ao lado de Pucon e do magnífico Vulcão Villarica, íamos apenas passar por Pucon, mas acabamos ficando três dias para poder escalar o vulcão Villarica. Essa foi mais uma emoção inesquecível, apesar de não conseguirmos chegar até a cratera, devido ao mau tempo, chegamos até os gaciais. Vulcão realmente é uma coisa que me atrai.
ATACAMA
O Atacama é diferente de todos os lugares por onde passamos, o primeiro impacto de um deserto é meio chocante, mas é de uma beleza impar, os geisers, os salares não dá pra explicar, só conhecendo mesmo. E San Pedro, a cidade onde ficamos hospedados, apesar de tudo ser caro, é muito charmosa. Outro detalhe, é a noite, nunca vi tantas estrelas em minha vida, com direito inclusive a estrelas cadentes.
VINHA DEL MAR / VAL PARAISO / ALGARROBO – CH
Conhecemos também Vinha e Val Paraíso, que são as praias próximas a Santiago, um lugar interessante é Algarrobo, onde fica um condomínio com a maior piscina do mundo, com 1km.
CARACOLES
Outro coisa inesquecível é andar de moto em cima das Cordilheiras dos Andes, passar pela famosa Caracoles e conhecer de perto o parque do Aconcágua.
FOZ DO IGUAÇU / PARAGUAI
Para terminar voltamos por Foz, que não conhecíamos, e aproveitamos para dar um pulinho no Paraguai, para fazer umas comprinhas.
Para entrar em contato com o José Carlos,
envie e-mail para: piloto@motoa2.com.br
Matéria roubada do site: http://www.rockriders.com.br/
Sem mais para o momento.
Fiquem com Deus!
Éder Negreiros (Trilhados M. C. – Mossoró/RN)
trilhados@hotmail.com
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