Após algum tempo, ou alguns milhares de quilômetros rodados, você perceberá que o seu patch é uma legião de olhos vigilantes sobre o seu clube, a sua pilotagem, a sua conduta, a sua cidade e a sua própria vida. Depois disso, tenha certeza, não importa aonde você for com a sua moto, vez por outra terás a sensação de estar sendo constantemente vigiado por ela, que, pouco a pouco, terá a sua cara, fará parte de sua sombra e será a sua mais fiel companheira. E essa não se importará com as cilindradas; muito menos com a própria marca ou ano de fabricação; ela simplesmente será sua e você dela a cada acelerada; bastará apenas um passeio pela caatinga das cidades e o amor entre vocês brotará sem contratos que firmem a união ou anéis que os liguem um ao outro. Em suma, vocês atravessarão o tempo. E mesmo depois que ela se for, você e os seus amigos ainda falarão dela (ou delas) por muitos anos.
Mas enquanto ela permanecer, quando você a quiser, ela ali estará à sua espera e, a cada quilometro percorrido, a sua máquina fará com que se perguntem os outros que te vêem pelo asfalto afora, quem tu és e de onde tu vens, tanto por estares com ela quanto por envergares o colete do teu clube de moto. Com o passar do tempo, isso é certo, você e a sua moto, serão um só corpo; você e o seu colete, uma só pele. E a partir daqui, você, a sua companheira e o seu colete, subirão ao altar da liberdade a cada evento. Estarão casados com as estradas. Porque uma moto que vive da garagem para o lava-jato e vice-versa, enlouquece do motor. E é uma coisa triste de se ouvir falar de perto.
Mas, atenta-te, Cangaceiro, para o fato de que vez por outra tu serás vigiado por aquela mera curiosidade que se debruça nas janelas das casas, quando passardes por aquelas pequenas cidades, a caminho dos eventos motociclísticos. Outras vezes, terás a vigilância daqueles olhares esbugalhados que saltam dos carros na hora do rush; alguns, maravilhados pela sensação de liberdade que um motociclista, no caso, você, lhes transmite, outros, injetados de ódio por evocares neles a lembrança que seus espíritos estão presos há tempos pela rotina estafante e engarrafamentos diários. Portanto, tende cuidado, Cangaceiro, com esses últimos olhares, porque lhe ferirão de morte se vacilardes à frente deles.
Por todos os lados, saibas que vigiado, não te esqueças nunca, também o serás pelos transeuntes, seja por aqueles que apenas saíram para passear ou que estarão a caminho do trabalho. E isso é mais do que certo. Não terás como fugir; e é até uma coisa boa que a tua presença se faça presente para todos através do teu colete que apontará para uma tradição que se estende no tempo, uma tradição que já estava presente quando te unistes ao bando d’Os Últimos Cangaceiros MC e haverá de perdurar caso o deixes.
Por isso, estejas sempre atento, porque haverás de ser escutado e vigiado o tempo todo entre amigos e também por aqueles que no aconchego de seus lares despertam com o berro (ou voz) de seu escape e, enfurecidos pelo barulho ou extasiados pela nostalgia que lhes possa lembrar tais cilindradas, irão à janela ou à varanda de seus apartamentos, como que relembrar o quanto já foram e ainda podem ser livres sem que se sentem ao fim da tarde com a boca escancarada e ainda cheia de dentes, como já dizia o grande Raul. Mas a maior vigilância será a que tu dirigirás a ti mesmo, devido à responsabilidade, caso estejas consciente disso, que carregarás nas costas, quando envergares o colete de teu clube a cada vez que saíres de moto, mesmo que seja para ires até à esquina comprar o pão para o café da manhã de todos os dias.
E de manhã à noite, não te esqueças: terás como vigia também a tua própria moto, fiel companheira, como eu mesmo disse no início desse texto e, agora, tanto me explico quanto me corrijo, porque, com o tempo, a tua moto receberá um nome, terá uma história contigo e acabará virando uma pessoa querida da família. Porque uma família não se faz apenas com um laço de sangue; ela se faz também com a estrada, os eventos, as histórias que se formam nas idas e vindas e, não podemos esquecer, é lógico, com muita gasolina. E isso tu saberás que não é nenhum exagero quando te acordares de madrugada a fim de cobrir esse familiar de duas rodas após o mesmo haver dissipado todo o seu calor das estradas. É claro, chamar-te-ão de fanático, às vezes, de louco, mas saberás que és apenas um motociclista.
E isso tudo te fará pensar numa espécie de onipresença do espírito motociclístico que emana de nossos coletes e nos remetem às nossas respectivas facções, presidentes, diretores e irmãos de outros motoclubes que já passaram algum dia pelas estradas que agora passamos sozinhos ou garupados. Far-te-á pensar que correu e corre uma tradição desse espírito que se encarna a cada dia nos mais variados personagens, motocicletas e eventos, com as suas respectivas estradas e descaminhos. E o nome disso tudo não é outro senão motociclismo.
Alexandrino, um d’Os Últimos Cangaceiros MC (Facção Recife)
www.osultimoscangaceiros.com.br
Material copiado do site: http://www.revistamotoclubes.com.br/
Sem mais para o momento.
Fiquem com Deus!
Éder Negreiros – Esspiao (esspiao@hotmail.com)
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Trilhados M. C. – Mossoró/RN
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sohh
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