Comunicado de Desligamento – Éder Negreiros Barbosa (Esspiao)
Informo aos interessados que a partir do dia 14 de dezembro de 2010 eu, Éder Negreiros Barbosa, motociclista residente na cidade de Mossoró/RN, encontro-me desligado do Trilhados M. C. – Mossoró/RN. Essa informação já se encontrava em poder da direção do Trilhados M. C. e só vem a tona agora, depois de passados alguns poucos dias do ocorrido, por motivos organizacionais internos da agremiação motoclubística na qual eu me encontrava inscrito.
Essa dolorosa e muito bem pensada decisão se deu pelo simples fato de ter chegado a hora de minha partida. É tempo de arrumar as malas, ou melhor, alocar a bagagem nos alforges de minha moto e “pegar a estrada”, ainda que essa seja uma rota que me levará a um destino totalmente desconhecido. Mas, afinal, quem de nós, aqui na Terra, conhece o próprio destino?!
Não posso deixar de relatar que agi com base apenas na razão e que tive que deixar de lado tudo o que era ligado a emoção. Se eu tivesse me dado ao luxo de pensar com o coração jamais seria capaz de fazer o que fiz. Outra coisa que me sinto obrigado a relatar é que caso eu não tivesse tomado essa decisão no momento em que o fiz estaria indo na direção oposta das coisas que acho corretas, contra tudo aquilo que preguei e defendi e contra as regras que me norteiam e sempre me nortearão no meio motociclístico e motoclubístico.
Cada um dos delicados pontos de costura que prendem o Brasão dos Trilhados às costas do meu colete de retalhos de couro e da minha jaqueta de viagem serão tirados por mim com a mesma dor que sentiria caso estivesse fazendo grandes e profundos cortes em minha própria pele! Precisarei acumular forças para desempenhar tal tarefa, pois sei que não será nada fácil. Porém, aviso que isso será feito o quanto antes.
Agradeço, com plena certeza sobre a decisão que tomei e, ainda assim, com o coração declaradamente partido, todos os muitos momentos inesquecivelmente fantásticos que vivi enquanto fiz parte dessa que é uma verdadeira família de motociclistas. Aviso a todos que, na bagagem que montei nos caóticos momentos que antecederam a minha partida, só serão levadas as boas lembranças, coisas gostosas de serem revividas e dignas de ficarem eternamente em minha memória.
Nada tenho contra o meu tão amado e respeitado ex-Moto Clube. Foi com o Brasão dele estampado nas costas que fui, montado nas “éguas de aço” que já me acompanharam em minhas andanças, aos mais lindos lugares. Foi com esse Brasão que visitei cidades e estados onde nunca pensei estar. Foi com ele e através dele que conquistei amizades que, com toda certeza, me acompanharão na estada da vida até o fim dos meus dias, até meus derradeiros “quilômetros”, não importando o caminho ou desvio que eu decida ou precise tomar. Quantas e quantas vezes eu vi o dia nascer fazendo o uso desse Brasão, enquanto contemplava o brilho dos primeiros raios de luz solar sobre o asfalto?! Quantas e quantas vezes, fazendo do nome do Trilhados Moto Clube meu sobrenome, eu permiti que a chuva me lavasse sobre a minha máquina, enquanto pilotava, acomodado prazerosamente dentro de uma roupa de couro, pelas mais belas estradas?! São contas que eu nunca conseguiria fazer, pois trazem como resultados números que eu jamais poderia mensurar. Sempre que eu olhar para os retrovisores de minha motocicleta e da minha vida é isso que eu vou e quero lembrar dos meus dias de Trilhado.
Informo que, sempre que possível e permitido, continuarei a acompanhar a inimitável turma dos Trilhados em Reuniões Sociais, viagens independentes e eventos motociclísticos. Não quero perder o contato com essa família. Ao contrário: Quero ficar cada vez mais amigo deles, quero ser cada vez mais irmão dos integrantes do Moto Clube que agora, de forma honrosa e honesta, deixo para seguir o meu próprio caminho, deixo para “trilhar” por outras rotas.
Enquanto Deus permitir e as circunstâncias estiverem a meu favor continuarei a incorporar e vivenciar o estilo de vida motociclístico em toda a sua plenitude. Continuarei a fazer moto viagens acompanhado e sozinho, sejam elas para eventos ou para qualquer que seja o lugar. Nasci para isso, para ser motociclista estradeiro, para viver completamente mergulhado nessa “paixão pelo risco calculado”, equilibrando-me sobre as duas rodas de um moto, sempre pronto e disposto para devorar asfalto.
Acho que posso sim usar as minhas palavras para relatar que vi essa agremiação nascer, crescer, amadurecer e aparecer no meio de tantas outras. Estive presente ativamente nos principais e mais relevantes momentos dessa bonita história. Tenho plena certeza de que o meu nome constará, ainda que em letras miúdas, nas principais páginas desse belo e espesso livro que trata de amigos inicialmente unidos pela paixão que sentem por suas máquinas de duas rodas. Posso dizer que vi a fundação desse Moto Clube, em meio a trilhas fora de estrada, e que estive presente em todas as suas primeiras viagens e idas a encontros motociclísticos. Lembro também que estive na fundação da Facção Sampa, na nomeação daqueles Membros que levariam, a bordo de suas motocicletas, pela primeira vez, o nome do meu ex-Moto Clube para fora do nosso país... E foi assim que a Bandeira do Trilhados M. C. foi hasteada no Deserto de Atacama. Quanto orgulho que eu senti... Quanta felicidade! Quase não cabia em mim toda aquela alegria. Aquilo me pós dentro de um verdadeiro “oceano de sensações”, já que era como se grande parte de mim estivesse lá com eles.
No mais, nesse momento de despedida, tudo o que desejo é paz e vida longa ao Trilhados M. C.. Que essa fantástica turma continue a trilhar de forma bonita, honrosa, correta e responsável os seus fascinantes caminhos pelas estradas do nosso país (e fora dele!). Que esse Brasão cresça cada vez mais, e que só se desenvolva e amadureça com o passar do tempo. Que os seus Membros, meus ex-irmãos de Brasão e eternos irmãos de estrada, defendam essa Bandeira com unhas e dentes. Essa sim é uma bandeira pela qual se vale a pena lutar!
A saudade irá sim existir, pois esse é um “lar” que deixo para trás, um lar onde vivi por mais de cinco anos. Porém, na garupa da saudade sempre estará a certeza de que o que fiz foi a coisa certa e que agi no momento adequado.
Sobre planos para o futuro da minha vida como motoclubista afirmo que não tenho nenhum, pois em todas as vezes que quis definir algo antecipadamente nada saiu como o esperado. Apenas o tempo e o meu coração dirão o que será feito de mim dentro desse meio. Dentro, trajando colete de couro, porém, sem Brasão para defender.
Mesmo depois de tudo o que foi escrito nesse comunicado, confesso que não me encontro munido com as palavras corretas e sintonizadas para me despedir dessa turma. Dito isso deixo aqui o meu fraternal, respeitoso e mais emocionado ADEUS. A gente se encontra pelas estradas da vida, amigos. A gente se encontra...
Éder Negreiros Barbosa
Motociclista – Mossoró/RN
esspiao@hotmail.com
TRILHADOS M.C
Marcellus Luiz
Vice presidente